Machado de Assis já era um escritor conhecido quando ocorreu o golpe que derrubou a monarquia e instalou a república em 15 de novembro de 1889. Tinha, então, 50 anos de idade e ocupava um alto posto no funcionalismo público da Corte. Isso deixava-o mais próximo dos fatos e, também, vulnerável às mudanças políticas. Além disso, ele era vizinho do Barão de Ladário, no Cosme Velho, ministro do Império e a única vítima da proclamação da República. Machado, contudo, nunca expressou claramente sua opinião a respeito do golpe mas deixou um relato cheio de ironia em seu romance Esaú e Jacó, que analisamos abaixo.
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Machado de Assis, breve apresentação
Machado de Assis (1839-1908) nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, era neto de escravos alforriados e de família pobre. Estudou em escolas públicas e nunca frequentou o ensino superior. Esforçou-se por ascender socialmente por meio da superioridade intelectual. Alcançou relativa fama e prestígio escrevendo em praticamente todos os gêneros literários: poesia, romance, conto, folhetim e teatro. Foi também jornalista e crítico literário.
É considerado o maior expoente da literatura brasileira e do Realismo no Brasil que ele introduziu, em 1881, com a publicação da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Seus ganhos, contudo, não vinham tanto dos livros e colunas que escreveu. Machado fez carreira no funcionalismo público, na maior parte do tempo no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, chegando a ocupar o cargo de oficial de gabinete do ministro, em 1881. À época da proclamação da República fora nomeado para ser diretor da Diretoria do Comércio, um cargo altamente honroso para quem era neto de ex-escravos.
A monarquia lhe abrira as portas para a ascensão social. O escritor tinha grande admiração por D. Pedro II e chegara mesmo a frequentar o paço imperial algumas vezes, como prova a sua assinatura no livro de presença. Por isso, não deve ter visto com simpatia a mudança do regime que expulsou o imperador do país.
A proclamação da República em “Esaú e Jacó”
Esaú e Jacó, de 1904, é uma das últimas obras de Machado de Assis. A narrativa se desenrola pelo ponto de vista do Conselheiro Aires, um diplomata aposentado. É ele quem opina sobre os fatos, quem esclarece as situações e as atitudes dos personagens.
A história se passa à época da mudança do regime monárquico para o republicano. A proclamação da República, propriamente dita, é mencionada no episódio da tabuleta, que se inicia no capítulo 49 e só se completa no capítulo 63. É no diálogo entre Conselheiro Aires e Custódio, dono de uma confeitaria, que percebemos, entre ironias e metáforas, a opinião de Machado de Assis sobre o novo regime.
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Tudo começa dias antes, quando “toda gente voltou da ilha com o baile na cabeça”, referindo-se ao célebre Baile da Ilha Fiscal, ocorrido em 9 de novembro de 1889. Custódio, depois de muita relutância, mandara pintar a tabuleta que levava o nome de sua loja na rua do Catete: Confeitaria do Império. O pintor avisa então que “a tábua está velha, e precisa outra; a madeira não aguenta tinta (…) está rachada e comida de bichos”. A alusão à monarquia é óbvia: um regime velho, decadente, comprometido e sem sustentação, que não suporta mais nem uma reforma, tem que mudar tudo.
Encomenda-se uma nova tabuleta mas eis que ocorre o golpe da República. Custódio manda um bilhete ao pintor com o seguinte recado: “Pare no d.” Não sabia se era melhor concluir a pintura com a palavra Império ou República. O que se segue é uma narrativa carregada de humor e ironia. A indecisão de Custódio quanto ao nome é sintomática de um país de muda para manter tudo como está. Machado de Assis reduz a proclamação da República a uma simples troca de tabuletas, mudança só de nomes. República e Império se equivalem como rótulos de fachada.
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Fonte
- ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1998.
- CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados, o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
- GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
- ____________ . Machado de Assis: impostura e realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
- ____________ . Por um novo Machado de Assis.São Paulo: Companhia das Letras, 2014.